Sinto saudades da minha infância, do tempo em que eu era criança e não
tinha com que me preocupar. Brincar, sorrir, dançar e cantar ocupava todo o meu
tempo. Descobrir a vida, suas cores, seus sabores era pura diversão.
Podia expressar livremente meus sentimentos e ainda recebia abraços, apertos e
muitos beijos. Os limites me educaram, mas não eram encarados com o peso da
seriedade ou da culpa. Ficava contrariada, mais seguia em frente na certeza de
que eu podia tudo, afinal de contas, eu era uma menina com a alma de princesa. C"EST
LA VIE! Eu acreditava que tudo o que eu fazia era muito importante e especial,
pois o apesar do mundo ser muito grande, lá no oceano infinito dos meus sonhos, eu sabia de que era capaz de
conquistá-lo. Eu conversava com minhas bonecas, encantava as dormideiras,
andava na meia ponta do pé para ir a aula de balé, queria ir para escola de táxi todos os dias e com
direito a tomar mineirinho. Risos. Literalmente confiava na abundancia do
universo. Tinha fada madrinha e alguns amigos
invisíveis. Enfim o céu não era o meu limite. Queria voar para as estrelas, morar
na lua e ser a Mulher Maravilha. Tinha uma autoconfiança e uma autoestima capaz deixar muito gente grande para trás. Essas primeiras lembranças preenchem de riquezas o nosso ser. Mas apesar
da infância ter uma doçura nata, logo cedo temos que aprender com as frustrações,
conhecer o impacto ensurdecedor de um NÃO, mais também é impossível esquecer a força restauradora de um abraço seja lá de
quem for. Sem falar do cafuné que é o deleite dos deleites!
Tenho que confessar,
normalmente a nostalgia me invade e decido revirar as gavetas para resgatar
certas memórias. Sei lá, acho que é coisa de canceriano, ou quem sabe de uma
escritora investigativa em busca de sua criança interior. Olhar uma foto antiga
de quando éramos crianças é um convite a introspecção. Depois que passamos do
grande momento da admiração da forurice as cobranças invadem a nossa tela
mental. Há um estranhamento. Será que não nos reconhecemos mais? Onde será que
está aquela beleza radiante? Será que vamos esmaecendo com os anos?! Cadê
aquela energia?! Será que as mudanças, os desafios, os problemas foram
amarelando o vibrante colorido da nossa
alma?! É como olhar no espelho mágico e
enxergar a versão mais bonita, audaciosa e destemida de nós mesmos. É um reencontro
no espaço-tempo do amor para restauração e fortalecimento. É uma preciosa
reconexão com a pureza, com a fidelidade
e com a compaixão. É apoio que nos tira da escuridão para a total entrega ao auto-respeito. É a libertação das
mazelas para voar nos verdejantes campos do autoperdão. É de verdade brincar de viver na doçura do
afeto. Talvez a nossa infância não tenha sido a melhor, ou a mais perfeita, mas
podemos sempre construir uma nova infância onde a gente não se cansa de ser
criança.
Paz e Luz
Mônica Dias